X / The Man With The X-Ray Eyes
1963 / EUA / 79 min / Direção: Roger Corman / Roteiro: Robert Dillon, Ray Russel / Produção: Roger Corman, Bartlett A. Carré (Produtor Associado), Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson (Produtor Executivo) / Elenco: Ray Milland, Diana Van der Vlis, Harold J. Stone, John Hoyt, Don Rickles
O Homem dos Olhos de Raio X é mais uma preciosidade de Roger Corman entregue para a American International Pictures dos produtores Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson (pai de Jack Nicholson). Clássico do sci-fi / horror / filme B, com um dos melhores finais do gênero de todos os tempos.
A fita é mais um dos exemplos gritantes dos perigos da ciência e de se brincar de Deus, que resultam em catástrofe quando cientistas, que mesmo obstinados e procurando promover o bem, acabam vítimas de suas experiências, resultando em terríveis mutações, poderes fora de controle ou enlouquecimento. Na maioria das vezes, os três em uma tacada só. O cinema é cheio de filmes com essa temática. Para citar alguns mais antigos quando cientistas testam suas invenções em si mesmo, antes do lançamento de O Homem dos Olhos de Raio X e que já apareceram aqui pelo blog: O Raio Invisível, com a dupla Boris Karloff e Bela Lugosi, e A Mosca da Cabeça Branca com a Vincent Price.
E esse cientista/ médico da vez é o Dr. James Xavier, vivido por Ray Milland, que já havia atuado em Obsessão Macabra de Corman. Xavier está trabalhando numa pesquisa científica secreta conhecida como X, que é capaz de aumentar a visão humana. Decidido a aumentar exponencialmente o potencial limitado de nossos olhos, que segundo ele, somos capaz de enxergar apenas 90% do universo que está em nossa volta, Xavier se empenha em sua fórmula e começa o teste em um macaco, que apesar de primeiramente ser bem sucedido, o símio logo morre de ataque cardíaco, pois não estava preparado para tudo aquilo que conseguia ver agora. Sinistro.
Claro que brilhantemente, Xavier vai testar a fórmula em si mesmo, com a ajuda do seu amigo oftalmologista, Dr. Samuel Brant (Harold J. Stone). Isso também porque sua pesquisa está a um passo do corte de verbas pela fundação de pesquisa que financia o seu projeto, chefiada pela Dra. Diane Fairfax (Diana Van der Vlis), que exige resultados. Mesmo sem maiores testes, Xavier encara o desafio, pingando a fórmula em seus olhos através de um colírio, e assim, expande sua visão para algo além do imaginado.
Primeiramente ele começa a enxergar tudo como um enorme clarão e explosão de cores. Acostumando-se com a nova visão e ao mesmo tempo extrapolando sua experiência e usando o colírio cada vez mais, ele adquire a sobre humana capacidade de ver através de objetos sólidos, tornando-se assim o Homem dos Olhos de Raio X do título. E como todo homem que se preze, uma das vantagens que ele dará para a nova visão, é ver mulheres sem roupa, claro, em uma divertida cena em uma festinha em um apartamento onde vê todo mundo dançando peladão.
Mas há também importantes aplicações para a super visão de Xavier, como a capacidade de olhar através do tecido humano para encontrar doenças e obter diagnósticos muito mais precisos que qualquer máquina da raio x. Isso faz com que ele faça uma interferência não autorizada para operar uma garotinha com problemas cardíacos e é acusado pelo cirurgião Dr. William Benson de conduta antiética da profissão, sendo afastado e tendo sua pesquisa cancelada pela fundação.
O cientista então é obrigado a fugir e decide aventurar-se em um circo, utilizando o nome de Mentallo, trabalhando como adivinhador e depois até como curandeiro, quando começa a ser chantageado pelo vigarista Crane (Don Rickles), que descobre sua identidade. Tentando continuar suas experiências e ganhar um dinheiro, Xavier monta um novo consultório para atender e diagnosticar pacientes, parecendo uma espécie de Chico Xavier, pois agora é obrigado a utilizar permanentemente óculos escuros e bandagens nos olhos, pois mesmo fechados, ele ainda consegue enxergar, como se estivessem permanentemente abertos, o que começa a deixá-lo cada vez mais perturbado e viciado em seu colírio.
Obrigado a continuar sempre fugindo, ele se reencontra com a Dra. Fairfax que agora o ajuda, até chegar em Las Vegas com todas as suas cores berrantes e letreiros luminosos, onde resolve trapacear em um cassino para conseguir dinheiro, usando seus poderes visuais. Mais uma vez a polícia descobre seu paradeiro e ele é obrigado a fugir, em uma perseguição pelo deserto de Nevada. Até que ele encontra uma daquelas tendas evangélicas itinerantes no deserto.
Aí é que o filme tem seu ápice, revelando um dos mais fantásticos finais do gênero, como já disse anteriormente. ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco. Atormentado pelo seu poder, já que Xavier começa a enxergar além da matéria, com seus olhos, agora negros e sem pupila, servindo como receptores dimensionais para outros mundos e realidades, em um estado de confusão mental, Xavier ajoelha perante ao pastor, que pergunta a ele se ele é um pecador e deseja ser salvo, quando o ex-cientista admite ter visto Deus, metaforicamente, no centro do universo, como uma luz, um olho que nos vê a todos, além de toda a escuridão. O pastor então cita Mateus, capítulo 5: “Se teu olho o faz pecar, irmão, arranque-o”. E é exatamente isso que ele faz. Uma cena chocante, de Xavier arrancando os olhos com as próprias mãos e olhando para o alto com dois buracos nas órbitas. O filme oficialmente termina aí com um fade out e os créditos, mas o roteiro original conta que Xavier ainda gritaria: “eu ainda consigo ver”, mas que foi vetado pela MGM por ser considerado ainda mais perturbador.
Com um orçamento baixo, efeitos especiais modestos, mas um roteiro intrigante e com uma temática assustadora que explode em seu terrível final pessimista, O Homem dos Olhos de Raio X é uma gema de Corman que escancara os medos do desenvolvimento científico e como ele pode ser perigoso. E ainda há essa mensagem teológica em seu final, mostrando que há certas coisas que os humanos não deveriam ver, e tampouco se atrever a olhar além do que é permitido para nossa compreensão, pois essas forças das trevas e luz do desconhecido, podem nos levar à loucura, quase como uma mensagem lovecraftiana incidental.
1001 • 1960 • american international pictures • cientista • experiência • experimento • james h. nicholson • loucura • olhos • raio x • ray milland • roger corman • samuel z. arkoff • sci-fi • visão
7 Comentários
Apesar do final brilhante (que poderia ser mais brilhante ainda com o texto original), achei o filme muito simples. Tirando o final, achei a história meio óbvia e os personagens desenvolvem de maneira muito superficial. Muito disso achei que se dá pela duração do filme. È um bom filme, mas tem potencial para ser melhor.
E não sei porque, mas achei o ator deste filme parecido com o Alec Baldwin…
Será que Ray Milland era um dos intermináveis irmãos Baldiwn? AHHAHAHAHAHAHA…
Gosto bastante do filme, mas concordo que poderia ser melhor aproveitado. E o texto original seria o final épico.
Obrigado por comentar.
Abs.
Marcos
[…] de Drácula e Frankenstein da Hammer, Ray Milland, que já havia trabalhado com Roger Corman em O Homem dos Olhos de Raio-X e Obsessão Macabra (dentro do ciclo Poe do diretor) e Donald Pleasence, imortalizado como o Dr. […]
huuuummmm….passou uma vez no TCM…..
É um dos meus filmes preferidos, mas só o tenho em dvd importado. Existe edição nacional?
Oi Paulo. O DVD nacional já saiu de catálogo, infelizmente. Você até pode encontrar em sebos ou talvez no Mercado Livre por uma bagatela.
Abs
Marcos
Obrigado, Marcos. Outro filme que eu gosto muito, é “O Olho Hipnótico” (1959, de Jacques Bergerac), que na minha infância a Globo passou como “O Olho Diabólico”. Esse também eu só tenho importado…