Cá estou em um tanto atrasada com a leitura de Achados e Perdidos, afinal, o próximo livro da trilogia Bill Hodges, O Último Turno, chega nas livrarias brasileiras já no mês que vem. De qualquer forma, foi uma leitura rápida e fácil, muito diferente de algumas outras tantas obras de Stephen King.
O eterno vencedor dos troféus Golden no Hall da Fama continuou investindo na fórmula que tanto fez sucesso no primeiro livro da trilogia, Mr. Mercedes. O combo de escrita objetiva, personagens carismáticos, um crime e uma boa dose de investigação pareceu ter surtido efeito, então King continuou no mesmo ritmo do anterior, sem deixar a peteca cair, com dois pontos divergentes no tempo que, ao longo de Achados e Perdidos, irão se cruzar em algum ponto da narrativa.
Em 1978, o escritor best-seller John Rothstein é retirado de sua pacata reclusão por um trio de assaltantes mascarados que invadem sua propriedade e tocam o terror. As coisas começam a ficar um tanto mais preocupantes quando notamos que o cabeça do trio, um sujeito chamado Morris Bellamy, declara-se fã número um do personagem Jimmy Gold, a menina dos olhos de Rothstein, o personagem principal de sua mais famosa franquia literária.
Bom, se você já é um Leitor Fiel escolado e graduado em Stephen King como eu, com certeza se lembra de outra personagem muito famosa que declarava ser a maior fã de outro escritor: Annie Wilkes, de Louca Obsessão (ou do livro Angústia, se preferir). E tal como Annie, Bellamy é um leitor que coloca a obra favorita acima de qualquer outra coisa, até mesmo de seu próprio autor.
Depois de matar Rothstein, Bellamy rouba o dinheiro do cofre e, além disso, também leva dezenas de cadernos recheados de anotações e textos do escritor. Notamos que esses cadernos eram a verdadeira motivação do crime do meliante, que sempre quis saber o desfecho de vida de Jimmy Gold, já que os três livros da série “O Corredor”, “O Corredor Procura Ação” e “O Corredor Reduz a Marcha” sempre foram sua maior obsessão.
Pula pra 2010. A família Saubers está passando por verdadeiros apuros financeiros. Desde que o patriarca, Tom, ficou gravemente ferido na feira de empregos cuja qual um psicopata investiu uma pesada Mercedes Benz contra a multidão que ali aguardava uma oportunidade de se recolocar no mercado de trabalho. Com o pai sem poder andar e necessitando de remédios, e a mãe ganhando bem menos que antigamente, os filhos Peter e Tina tem que aguentar o clima pesado que ronda o ambiente familiar.
Tudo muda quando, por um golpe do destino, Peter encontra um baú enterrado num bosque nos arredores de sua casa, contendo uma boa grana e os cadernos de anotações de John Rothstein. Morris Bellamy havia enterrado o baú com o seu tesouro um pouco antes de ir preso e ser condenado á prisão perpétua.
Tudo parece ir á favor da família Saubers, já que Peter fornece o dinheiro encontrado para os pais (de forma anônima), o que se torna o pontapé inicial para uma reestruturação familiar e progressão financeira. Por mais alguns anos, Peter e família seguem numa boa até que Bellamy, que conseguiu uma condicional e saiu da cadeia após quase 40 anos de prisão, decide ir atrás dos frutos do latrocínio. Aí que as histórias se fundem.
Assim como em Mr. Mercedes, a trinca de improváveis detetives formada por Bill Hodges, Jerome e Holly estão de volta. Hodges e Holly abriram uma empresa, Achados e Perdidos, uma agência especializada em encontrar foragidos da polícia e solucionar casos. Quando a irmã de Peter Saubers, Tina, conta sobre o dinheiro misterioso que o irmão fornecia anonimamente para sua melhor amiga Barbara (irmã de Jerome, lembra dela no primeiro livro?), elas decidem procurar a agência para investigar o caso e proteger Peter de Morris Bellamy.
Apesar dos ganchos com o livro anterior, pouco fala-se sobre o caso do assassino Mr. Mercedes, Brady Hartsfield. Após os acontecimentos finais do último livro – ALERTA DE SPOILER – pule para o próximo parágrafo caso não tenha lido Mr. Mercedes – Brady está internado em hospital com severas sequelas cerebrais, e vive em permanente estado catatônico. Bill Hodges ainda o visita esporadicamente, na esperança de descobrir se Brady está realmente vegetativo ou se tudo não passa de uma enganação para fugir da condenação pelos seus crimes. E é aí que entra o gancho sobrenatural da trilogia que tanto estávamos esperando, num epílogo incrível que encerra o livro e nos deixa extremamente curiosos com o próximo da série.
Num geral, Achados e Perdidos segue constante e mantém nossa atenção até o final da leitura, algo típico dos livros de Stephen King. Se esse ritmo for mantido em O Último Turno, com certeza a trilogia Bill Hodges tem tudo para ser uma das melhores sagas literárias da atualidade, e tão importante para os fãs de King quanto a trilogia Jimmy Gold era para Morris Bellamy.
Espero que isso não soe como uma ameaça, claro.
Ficha técnica:
Stephen King – Finders Keepers – 2015
Tradução: Regiane Winarski
Lançamento no Brasil – 2016
Editora Objetiva – Suma de Letras
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