Faz tempo que o diretor Eli Roth, chapa de Quentin Tarantino, prometeu um filme/homenagem ao infame ciclo italiano canibal, e depois dos inúmeros problemas com seu lançamento, Canibais (eu queria muito saber quem foi o espertalhão que deu esse título nacional para The Green Inferno, uma vez que já existe um – talvez até mais, sei lá – filme com esse mesmo nome e poxa, “Inferno Verde” , custa?) finalmente conseguiu chegar no circuito DOIS ANOS depois de sua produção, e só graças ao midas do terror Jason Blum que comprou os direitos para exibição, entrou como produtor executivo, e assim foi lançado nos cinemas americanos em 25 de setembro.
Canibais é um antigo desejo de Roth, fã confesso do subgênero canibal e que decreta Cannibal Holocaust de Ruggero Deodato como seu filme preferido ever. O próprio nome original, The Green Inferno é um termo cunhado por Deodato em seu controverso filme e no final dos créditos vemos escrito em bom italiano: Per Ruggero.
Isso sem contar a caralhada de referências e homenagens, não só a Holocaust (o sujeito empalado, a vingança dos indígenas contra o homem branco, etc), mas a diversos outros filmes do subgênero, principalmente Cannibal Ferox, de Umberto Lenzi (a sequência final e a decisão da protagonista ao retornar à selva de pedra é indiscutível) e A Montanha dos Canibais, de Sergio Martino, outro dos grandes italianos do terror, como a ideia da tribo deificar uma das garotas e pintá-la para algum tipo de ritual/ sacrifício sexual.
A trama segue o BEÂBÁ do ciclo italiano, quando um bando de ativistas se embrenha na Floresta Amazônica peruana para impedir que uma escusa companhia devaste o local e risque do mapa uma população indígena inteira. Após conseguir a sabotagem, um acidente de avião os joga no meio do mato, a mercê de uma tribo de canibais.
Daí para frente, veremos sempre o que Roth sabe fazer de melhor: uma porrada de cenas de gore intenso, brutais, violentas, com decapitação, membros decepados, canibalismo, empalhamento, castração feminina e toda barbárie que esperamos, trazida de forma exuberantemente grotesca pela maquiagem de Howard Berger e Greg Nicotero, papas no assunto.
E também vamos acompanhar o dilema moral, o choque de costume e a filhadaputagem do homem branco, como um bom filme de canibal manda, ao descobrir que o mocinho e líder dos ativistas é um verdadeiro canalha sacana, que certamente fez escola com Alan Yates de Carl Gabriel Yorke em Holocaust, ou o Mike Logan de Giovanni Lombardo Radice em Ferox.
E claro, tudo isso, com o alívio cômico, marca registrada do diretor, que sempre abusa do humor negro camp em seus longas de temática pesadíssima, como já o fizera em Cabana do Inferno e O Albergue. Muita gente torce o nariz, mas eu acho até de certa forma, saudável para quebrar um pouco do choque gráfico, mesmo que muita das vezes sejam piadas escatológicas e de gosto duvidoso.
Destaco aqui a sequência em que do nada, Alejandro, o personagem de Ariel Levy, começa a se masturbar, preso com os colegas na jaula de madeira, para dar uma aliviada na tensão, logo depois que uma das garotas não aguenta o tranco e se suicida, ou quando os sobreviventes resolvem entubar essa mesma garota de maconha, tipo um cookie, um bolo, um brigadeiro, você tá ligado, para os índios ficarem doidões ao comê-la e assim tentarem fugir. Só se esqueceram da larica que bate depois…
Canibais é um filme em que Roth entrega aquilo que promete e não decepcionará o fã do trash e do ciclo italiano canibal (só aqueles bem xiitas que reclamam de tudo, mas né, fazer o quê…), que se divertirá com as situações, a brutalidade e a penca de referência.
3,5 antropofagias para Canibais
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