As penitências serão pagas!
Lembra daquele velho ditado “aqui se faz, aqui se paga”? Alguns filmes representam muito bem espírito de vingança. Para citar alguns exemplos com esta temática temos o Cabo do Medo, a Trilogia da Vingança de Park Chan-Wook, Kill Bill volumes 1 e 2 e tantos outros. Porém a redenção das personagens em cada uma destas parte do ódio.
Bottom of the World – ou “A Profundeza do Mundo”, em tradução literal – bate pesado no âmago de todos. Alex (Douglas Smith) e Scarlett (Jena Malone), um casal que está viajando de carro em direção a Los Angeles, resolve parar numa típica cidadezinha interiorana dos EUA para descansar e de quebra, aproveitar por uma noite o peculiar recinto no qual se hospedam. Ao partir, Scarlett começa a sentir um mal súbito que a mesma descreve “como se estivesse caindo em queda livre para o nada” e implora para que Alex volte à cidade, pois esta é a única certeza da moça de que ela melhore. Após a segunda noite no rancheiro hotel, o rapaz acorda e sua namorada simplesmente sumiu. A busca por ela começa, assim como pela verdade que o cerca. Tudo isto com um background envolvendo um stalker sinistro, um padre e seus sermões, devaneios e uma confissão.
Um bom e efetivo suspense não precisa – e não deve – dar respostas óbvias. Por alguns momentos este filme se torna deveras estranho e sem sentido nenhum, mas por algum desconhecido motivo, tal qual a sensação da moça protagonista, você continua assistindo e matutando o que será que pode estar acontecendo.
Uma cena destas acontece entre o monólogo do stalker com Alex, no meio do deserto, o qual fará efeito somente em seu último ato. Apesar de sua narrativa ser “linear”, o modo fragmentado de contar a história faz com que se perca propositalmente, mas que te adentra à mente do personagem. Seu ritmo lento possui um propósito e lhe prepara para um final impactante e surpreendente. O diretor Richard Sears soube dosar a tensão com a curiosidade do espectador, oferecendo uma experiência satisfatória, sem inventar muita pergunta para pouco motivo.
As atuações também não deixam a desejar e são muito convincentes. Ted Levine (Viagem Maldita, O Silêncio dos Inocentes) faz uma participação mais que especial e muito significativa ao longa. Garanto que seus olhos penetrantes o farão se sentir acuado. Como de praxe, desta nova safra do horror no geral, a cinematografia é belíssima, pois o cuidado com a pós-produção e edição mostra que o longa foi realizado com muito esmero. Prova disto é o incômodo sentimento de não ver nenhuma pessoa andando pelas ruas junto com uma música provocante e sinistra. Seria sonho ou realidade?
O longa trata da questão da vingança e traça uma linha tênue entre vilão, vítima e carrasco. Para toda ação há uma reação. Admitir a responsabilidade e consequências de seus atos é libertar-se das amarras que o prendem a evoluir como pessoa. Bottom of the World é um exercício e uma lição para os mais céticos de que, o mal feito ao próximo será cobrado, mesmo que o inquisidor seja seu próprio subconsciente.
4 dúvidas para Bottom of the World
bottom of the world • featured • religião • stalker • surreal • suspense • ted levine • thriller